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1- Definições
2- Preliminares de uma História que ainda está sendo escrita
3- Referências fundamentais para este texto
4- Créditos - Imagens

1- Definições:

Maquetes, modelos, simulacros e protótipos, são representações tridimensionais reais, em escala exata ou aproximada, com funções, objetivos, materiais, acabamentos e características as mais variadas. Pessoas utilizam estas representações quando necessitam da realização física concreta no espaço de algum conceito ou alguma noção prévia surgida de sua elaboração intelectual, passível ou não de alteração e com o fim essencial de auto-esclarecimento ou comunicação com terceiros.
Maquete é o termo francês que foi cunhado por escultores para a elaboração de peças preliminares em gesso. Fundamentalmente significa o mesmo que simulacros ou modelos, muito embora simulacro refira-se mais a uma imitação superficial, e modelo seja mais utilizado com o sentido de padrões ou montagens tridimensionais que poderão sofrer alterações, ter suas propriedades físicas testadas, como em processos de estudo. Estes termos podem ser também utilizados na Matemática (onde o modelo é conseqüência do modelo físico), na Economia (modelos financeiros) e em outros ramos das ciências exatas e humanas, ou ainda para representar a versão preliminar de um documento de apresentação (comumente conhecido como boneco no Brasil).
Na área de atuação da S.Q. Maquetes, estes três termos do parágrafo imediatamente anterior referem-se a estudos e apresentações técnicas, funcionais, formais, estéticas e conceituais com redução ou ampliação de escala, com materiais que normalmente são diferentes do produto final. Eles devem revelar capacidade de síntese e manter referência rigorosa e permanente com a função e o objetivo originais que motivaram sua confecção, a fim de conseguir comunicar a essência da idéia na escala escolhida. Afinal, uma mesma idéia pode ser representada de várias maneiras ou em partes, e sua representação mais apropriada sempre irá depender dos aspectos que se deseja destacar daquela idéia.
Esses aspectos refletem a intenção representativa do idealizador. Esta intenção, por sua vez, depende do dinamismo das relações culturais entre observador e idéia, bem como do relativismo dos instrumentos e aptidões de levantamento e análise de informações a respeito do tema. Além disso, ela é sensível ao fato de que as modificações nas representações em geral (portanto não só tridimensionais reais) são sempre influenciadas pelo modo de produção em vista das demandas do avanço tecnológico e do estágio histórico das relações sociais. Não é por outro motivo que a S.Q. Maquetes trata cada trabalho de maneira particular, e sua produção é verdadeiramente artesanal.
Protótipos, de sua parte, mais utilizados na esfera do desenho industrial, demonstram em escala natural (1:1) mecanismos e funcionamento, ou forma, volume, peso e ergonomia, fazendo uso fiel dos materiais que serão utilizados no produto final. Significam literalmente "o primeiro de um tipo". No início da era industrial, o protótipo era o produto feito pelo mestre, que depois deveria ser produzido em série. Hoje em dia, significa a representação de um produto que eventualmente será industrializado, após testes de aceitação e de entendimento do conceito pelo público, testes ergonômicos, testes físicos de materiais e de riscos para redução de falhas e acidentes, testes de resolução de problemas específicos no desenvolvimento do produto, testes de fabricação e montagem e testes de mercado.
De qualquer modo, todos eles, maquetes, modelos, simulacros e protótipos, devem evidenciar metodologia, planejamento, e habilidade técnica nas escolhas da linguagem, da escala, do grau de detalhamento, dos materiais, das técnicas construtivas, das cores, das texturas, da solução ergonômica, das dimensões e outras características físicas, dos componentes sensoriais, do nível de mecanização e assim por diante. Isso tudo em função de um entendimento conceitual, estético e funcional, bem como do grau de envolvimento do observador-participante.

2- Preliminares de uma História que ainda está sendo escrita:

Introdução:


Pode-se afirmar que a maioria das pessoas não sabe o que está incluído no aperfeiçoamento de um design ou um projeto, ou de uma ambientação, ou ainda quão importante é a fase de modelagem e prototipagem para o desenvolvimento de qualquer produto ou idéia. É comum, por exemplo, o engano entre maquete literalmente volumétrica, com seus volumes de formas geométricas elementares, e maquetes que apresentam um nível inicial de detalhamento, e cujas produções, desde o planejamento, são marcadamente distintas. Esta atividade não é, de modo algum, padronizada, e certamente, não deve ser entendida como algo massificado. Ao contrário, envolve um processo criador - Arquimedes, Leonardo da Vinci e Frank Gehry que o digam! Como em quase todas as atividades humanas, maquetes, modelos e protótipos eficientes e de alta qualidade também estão sujeitos a contextos e relações econômicas, sociais e culturais, porque constituem parte indispensável do dinâmico processo criativo do ser humano.
Maquetes e modelos, e mesmo protótipos, têm sido utilizados há séculos. Pouco se sabe ainda sobre eles ao longo da história. E o que se sabe, ainda é motivo de significativa especulação. No Brasil e no mundo, apenas algumas pesquisas e análises históricas foram ou têm sido realizadas sobre o início, os tipos e os usos desses produtos. São pesquisadores que acreditam que este modo de representação, tridimensional (junto com outros bidimensionais, ou ainda outros a serem descobertos ou inventados), é absolutamente crucial para o desenvolvimento de idéias, para estudos e para comunicação, e procuram resgatar seu uso, visando estabelecer claramente uma cumplicidade e um processo de constante colaboração entre os diversos meios de representação criados pelo ser humano. A S.Q. Maquetes faz eco a essas manifestações, pois entendemos que não há possibilidade de atuação no presente nem avanço futuro, qualitativamente significativos, sem uma análise crítica séria do passado e das origens.

Modelos, Maquetes e Protótipos no tempo:

Alguns pesquisadores sugerem que pinturas rupestres podem ter sido executadas a partir de maquetes. Imagens em pequenos blocos de argila esculpidos em escala em alto relevo, no local do evento, eram posteriormente transpostas para as paredes das cavernas ou pedras. Além disso, placas de bronze foram produzidas também em alto relevo representando algum animal.

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Os vikings faziam modelos de seus navios ou peças de xadrez (um jogo aparentemente tão cultuado em sua região e época quanto o futebol hoje). Os egípcios confeccionavam imitações detalhadas de objetos e utensílios em escala, em argila, papiro e cera, esta última um material considerado sobrenatural por vir das abelhas e que tinham relação direta com o rei sol. Eles demonstravam experimentação artística e habilidade, e eram colocados nas tumbas dos faraós para serem utilizados em sua vida após a morte.

Sabe-se que os chineses produziam pequenas urnas em forma de casas por volta de 1500 AC, e os semitas produziam câmaras mortuárias de pedra, também em forma de habitação, já no século IV AC. Na Roma antiga, maquetes existiam talvez como oferta de voto a alguém importante, como deuses e imperadores tidos como divinos, para a execução de suas máquinas de guerra, ou ainda possivelmente para calcular o fluxo e a vazão de aquedutos, permitindo alçar pontos e executar desvios - verdadeiros protótipos. Na Grécia antiga, modelos mecânicos parecem ter sido usados comumente, além de maquetes que evidenciavam a capacidade imaginativa e poética do artesão, ou "eido-poiéo" (eido: forma exterior perceptível pelos sentidos; poiéo: articulação do universo abstrato da imaginação e o mundo físico da construção).

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Os fenícios podem ter produzido modelos de suas máquinas de navegar. Habitantes das Ilhas Fiji faziam de suas "casas do arroz".

Os maias e os incas utilizavam-se das qualidades comunicativas e de estudo dos modelos, e alguns índios brasileiros conceberam modelos de suas habitações além de algumas didáticas para ensinar seus meninos sobre arcos e flechas.

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Especula-se que na Idade Média maquetes fossem usadas com freqüência, especialmente na Itália, executadas normalmente em madeira ou outro material de construção, em vários estágios do desenvolvimento do edifício. Apesar de ter sido um período sacro, de adoração divina e distante do ser humano mortal, não parece ser razoável acreditar que a execução de obras, notadamente catedrais, pudesse prescindir de testes e experimentos. Talvez fossem atividades de reduzida importância social, o que possivelmente tenha condenado estes objetos ao esquecimento e destruição. Na França maquetes, algumas feitas de cera, eram mais raras e provavelmente usadas como memoriais, portanto posteriores à construção da obra e não necessariamente como auxílio no seu desenvolvimento. De modo geral, aparentemente maquetes eram usadas técnica e politicamente para consulta popular ou simples ratificação. Nos países nórdicos, nos séculos XIII e XIV, acredita-se que o uso de maquetes tenha sido significativo, e em outras regiões do norte da Europa experiências inéditas em estruturas parecem ter sido realizadas por meio do uso de maquetes, particularmente no estilo Gótico. Este é, sem dúvida, um período obscuro desta atividade e merece estudos mais aprofundados.


Foi no Renascimento Italiano que o uso das maquetes, particularmente arquitetônicas, adquiriu uma dimensão nunca antes vista. Este período significou a passagem de uma cultura fundada em textos sacralizados (Idade Média) para outra fundada na observação direta dos fenômenos naturais (Renascimento), baseada em enorme medida nos Antigos (Gregos). Isto exigiu instrumentos e técnicas de representação bi e tridimensional mais sofisticadas, ordenadas e precisas, em grande medida insuperadas até hoje. Os arquitetos do Renascimento não foram os primeiros a utilizar maquetes arquitetônicas, porém dados históricos sugerem que eles experimentaram e construíram com melhores métodos e regularidade que qualquer um de seus predecessores.

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A partir do século XIV, a arquitetura atingiu status de arte liberal. O arquiteto passou a ser visto como um profissional específico e destacado, ao projetar o templo, a casa que protege a cidade, a casa do poder. Neste contexto de inovação e produção de conhecimento, maquetes serviram também para o estudo de edifícios existentes. Giotto, Brunelleschi e Alberti, considerados os fundadores da arquitetura Renascentista, desde cedo lançaram mão de maquetes.
Brunelleschi, originalmente um artesão e, portanto, ele mesmo hábil com as mãos, fez uso particularmente rico delas, com seus modelos para cenários teatrais e a demonstração prática do funcionamento do edifício e suas partes, inclusive nos aspectos construtivos, incluindo escalas humanas descendo lentamente da superestrutura, completos com engrenagens, maquinaria, movimentos, sombras, cores, texturas e assim por diante. Essencialmente, ele tencionava capturar a resposta psicológica dos observadores frente ao contexto arquitetural da vida real, e não apenas mostrar o que seria a obra depois de pronta. Para isso buscava criar um ambiente 'usado', gasto, tentando aproximar o modelo do que supostamente seria a obra já em uso.
Alberti, contemporâneo e aluno de Brunelleschi, incentivava o uso de maquetes, mas sem ornamentos ou acabamentos. Só a maquete podia fornecer as informações definitivas sobre posições e disposições, espessuras das vedações e das abobadas ou os custos do edifício. Maquetes representavam exatamente a tríade planta, corte, elevação, e, portanto, um projeto completo. Ao contribuir para elevar a profissão do arquiteto a arte liberal, Alberti incentivava uma prática intelectual durante o processo do projeto. Quando desenhava para a arquitetura, condenava o uso de perspectivas, que distorciam o projeto e suas dimensões. Ele impulsionou a prática de desenhos mais precisos, sempre acompanhados de modelos que, partes do processo de projetação e, portanto, instrumentos para o estudo e a realização de idéias (uma vez que na mente elas eram imperfeitas), superavam os aspectos comunicativos insuficientes do processo bidimensional. Para Alberti, as maquetes e modelos serviam para visualizar o todo sem distorção.
Brunelleschi, por sua vez, avançou além das regras rígidas de Alberti, que recomendava a simplicidade, a comunicação da relação do edifício com o ambiente, a delimitação da área, as partes e sua disposição no edifício, as vedações e a solidez, sem capricho final e imutável. Ao contrário, Brunelleschi insistia com a possibilidade de mutações e adaptações, entendendo que os modelos deveriam revelar, pelo menos em parte, sua engenhosidade, e seu potencial sensorial. Para Brunelleschi, portanto, e mais tarde para Michelangelo, a maquete (feita em madeira, argila e cera ou mesmo mármore) era, sim, a representação de uma idéia já formada na imaginação, e sujeita a uma dinâmica própria, instável. Michelangelo, aliás, freqüentemente construía a partir de modelos e não desenhos, e os utilizava para transmitir claramente uma idéia, como por exemplo para demonstrar problemas de projetos anteriores quanto à iluminação interna dos edifícios, algo impossível de fazer apenas bidimensionalmente.
A maquete renascentista, portanto, caracterizou-se ora como representação finita e imutável (onde o centro de irradiação era a obra a ser executada), mais tarde chamada de tradicional, ora como peças em movimento e constante mudança de composição que procuravam provocar reações sensoriais nos observadores (onde o centro de irradiação era a idéia, a intenção), mais tarde chamada de moderna. Esta última permaneceu ausente nos períodos seguintes, e só foi reutilizada já na segunda metade do século XX.
No Barroco, a precisão descritiva permaneceu em geral como o critério dominante. Não por acaso, a maquete tridimensional tornou-se progressivamente o instrumento privilegiado e generalizado de representação da idéia projetual, enquanto capaz de apresentar no melhor dos modos todo o efeito cenográfico das construções barrocas, muito mais intrincado que o da Renascença. O crescente uso da maquete substituiu a prática do uso da perspectiva renascentista, muito embora o desenho permanecesse essencial, adquirindo, além de um sentido artístico, colorido e vigoroso, também um sentido de documentação burocrática, legal. Afinal, foi neste período que ocorreu a ascensão da burocracia e do edifício de escritórios em um contexto de conquistas ultramarinas consolidadas, e um novo processo de colonização, onde as relações comerciais se complexificaram.
No Neoclássico, a precisão atingiu característica de sine qua non! Aqui surgiu o hábito do desenho rigorosamente linear em preto e branco que vigora até hoje no âmbito profissional, como o mais representativo e científico do fazer arquitetônico. A partir do século XVIII, estabeleceu-se uma relação ainda mais direta entre arquitetura e poder, em um contexto formativo das demandas da Revolução Industrial. Maquetes eram seu reflexo mais claro. Essas representações só se justificavam socialmente enquanto instrumentos de inovação. E inovação só ocorre onde há recursos para tanto, notadamente nos níveis mais abastados das sociedades. Assim, o uso de maquetes arquitetônicas começou a cair em desuso.
No século XIX, na esteira da Revolução Industrial, maquetes se restringiram mais a testes estruturais. Telford, um dos gênios da história da engenharia Britânica, construiu pontes para pedestres e tráfego leve alçadas por cabos de sustentação, que não foram calculadas matematicamente, mas testadas em maquetes próximas da escala natural, em vales secos.
Apenas no final do século XIX e já no século XX é que as maquetes arquitetônicas readquiriram sua plenitude de representação e comunicação, com o arquiteto Antônio Gaudí, por exemplo, especialmente em gesso puro, ou gesso reforçado com tela metálica, mas também de cordas com pesos para testes estruturais.


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Também, com arquitetos como Mies van der Rohe, Le Corbusier, Frank Lloyd Wright, El Lissitsky, Gerrit Rietveld, Moholy-Nagy nos anos 20, com Affonso Reidy, Vilanova Artigas, Rino Levi, Lúcio Costa, Henrique Mindlin e outros arquitetos modernos brasileiros nos anos anos 30 e 40, com Buckminster Fuller, Frei Otto, o Grupo Archigram e Constant Nieuwenhuis, Paulo Mendes da Rocha, e João Filgueiras Lima nos anos 50, 60 e 70.

Do mesmo modo, com Tadao Ando, Frank Gehry, Coop Himmelblau, Norman Foster e Enric Miralles nos anos 70, 80 e 90, apenas para citar alguns dos grandes nomes que fizeram da modelagem no século XX um instrumento de projetação e criação.

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No norte da Europa (e no hemisfério norte em geral), a enorme liberdade da composição arquitetônica conduziu a maquetes extremamente sofisticadas, gradativamente produzidas em materiais sintéticos e novos, que representam definições matério-cromáticas 'limpas' das partes do projeto. São experimentações e concepções que visam envolver, de maneira contextualizada, o observador-participante nos mantos da idéia e da interpretação passageiras e mutáveis.

Isto também se reflete no sul da Europa e em geral nos Estados Unidos, onde o avanço da tecnologia na arquitetura e no design produz maquetes quase expressionistas, de noções. Revelam uma volumetria básica ou um esqueleto da sustentação, como por exemplo no caso de panos de vidro ou uma rede de tirantes, sem evidenciar a grande complexidade técnica detalhada da concepção arquitetônica ou de mobiliário. No Japão, uma tradição de extrema síntese de sinais e signos resulta em representações leves e minimalistas, com uma extrema rarefação ambiental.

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No Brasil, com sua arquitetura extremamente criativa e inovadora, surgem expressões isoladas, mas nítidas de curvas estruturais e relações arejadas e marcantes entre vedos e aberturas. Exemplos que, freqüentemente com texturas e composições plásticas vigorosas, resultam em um objeto com vida própria.


Num âmbito mundial, na indústria de transformação e produtos acabados, como a automobilística (uma das maiores do mundo), a confecção de simulacros de massa, bem como de modelos e protótipos mecanizados, é prática corrente e necessária ao desenvolvimento e testes de produtos que demonstrem o dinamismo da evolução humana. No cinema em geral, onde os efeitos especiais atingem níveis únicos, a utilização de modelos reais em escala não só é intensa, mas também indispensável. A ambientação e a sensorialidade são membros do mesmo organismo moderno. Não nos referimos aos filmes prontos. Estes têm sua linguagem específica, mas ainda no plano bidimensional. Nos referimos aos estúdios, onde toda a encenação e modelos em escala, sem computador, reproduzem o cenário real. É uma experiência totalmente diferente, sem dúvida. Na arquitetura e no design, os exemplos volumétricos, esquemáticos, escultóricos, texturiais, conferem ao produto uma qualidade única e intrínseca. A composição resulta em algo perfeitamente compreensível, mas com vida própria, quase uma obra de arte. Até mesmo na arqueologia encontramos exemplos do uso inestimável de modelos e maquetes. Na segunda metade do século passado, por exemplo, uma embarcação datada do século 1 A.C. foi descoberta na costa da Grécia. Em seu interior foram encontradas peças de bronze que configuravam alguma engenhoca. Uma maquete foi então confeccionada para montar as peças a fim de solucionar o mistério: era uma máquina de calcular a posição dos astros. Algo como um primeiro computador da história, completo com manivelas e engrenagens. Uma descoberta única, sem dados históricos que a auxiliassem, e uma maquete a tornou possível.

Considerações finais:

O fato parece ser que, hoje em dia, com os cortes de custos como imperativo em todas estas e outras áreas que utilizam a modelagem, seria de se imaginar que se esta última não fosse de crucial importância e insubstituível já teria sido abandonada. E o motivo é simples: ela é uma ferramenta essencial de desenvolvimento e comunicação de idéias, conceitos e sensações. Um modelo, uma maquete ou um protótipo pode ajudar efetivamente as pessoas a testarem produtos, entenderem e fruírem uma idéia complexa em minutos ou mesmo segundos, ou tomarem decisões, ao mesmo tempo em que podem desfrutar de uma estética singular e própria.
A S.Q. Maquetes resgata esta interpretação na sua atuação. E neste sentido, somos uma empresa integrante de uma minoria que é resistente ao lugar comum no mercado brasileiro. Pois maquetes, mesmo constituindo essencialmente, e acima de tudo, um processo investigativo, de produção de conhecimento e criação, foram extremamente subutilizadas por aqui nas últimas décadas do século XX e continuam sendo neste início do século XXI. Talvez porque a produção arquitetônica, por força do chamado "mercado", certamente no Brasil, se recuse a enfrentar grandes desafios investigativos, e se valha de maneira vulgar de recursos informatizados, ou ainda de recursos materiais francamente descartáveis para produzir muito mais imagem do que espaço, muito mais impacto do que cultura na acepção mais profunda e rica da palavra, muito mais quantidade do que qualidade.
Um exemplo significativo é o dos produtos para estandes de vendas imobiliárias, que modestamente, não consideramos realmente maquetes na acepção mais profunda do conceito - encaixam-se mais na categoria de "quantidades descartáveis", pois, de reduzida qualidade executiva, privilegiam mais a captação rápida dos argumentos de venda, do que a procura de um reconhecimento formal ou técnico próprio e autônomo tanto das maquetes (que de resto não têm!), como da idéia que procuram comunicar. Perecíveis (quando não já semidestruídos pelo mal-acabamento), descartáveis, iguais e sem identidades criativas próprias, momentâneas, estes produtos não resultam em instrumentos duráveis de tangibilidade, de aproximação e plena realização da fruição da idéia, mesmo utilizando-se de recursos computadorizados como o corte a laser (tido por si só como sinal de avanço e qualidade!).
Isso sugere que vivemos no bojo da lógica de um sistema de relações que produz obsolescências aceleradas, que conferem inutilidade à criação original e à manutenção e longevidade do que criamos. Leva a crer que esta é a contribuição massificada, vulgar e empobrecida da chamada "Indústria Cultural". Teremos chegado ao ponto onde prescindimos do pensar, apenas copiamos o que já foi elaborado, agora com vida curtíssima? Em um determinado nível, é possível. Seja como for, nos recusamos a aceitar esta hipótese como irreversível.
Há, pois, uma necessidade imperativa da recuperação desta ferramenta de criação, dentro de um processo de fomento da imaginação, entendido em um contexto de liberdade verdadeira de escolha. Este é um direito humano fundamental. Afinal, como já foi dito, o homem se torna humano pela sua liberdade. E o direito é a garantia do exercício da possibilidade (Galli Mathias, citado no Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade). Possibilidade de descoberta e opção. Sem isso, só nos resta a pobreza da sociedade de consumo, que é, por essência, uma sociedade afirmativa: depois de sujeitar os gostos ao menu de escolhas que oferece, naturalmente tem um menu para todos os gostos (Boaventura de Souza Santos).

Referências fundamentais para este texto:

1. ROZESTRATEN, A. (2003) "Estudo sobre a História dos Modelos Arquitetônicos na Antiguidade" - Dissertação de Mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo.

2. SANTOS, B. de S. (2001) "Seis Razões para Pensar", em LUA NOVA - Revista de Cultura e Política, nº 54 "Pensar o Brasil", CEDEC, São Paulo.

3. STRATHERN, P. (2000) "Turing e o computador em 90 minutos", Zahar, São Paulo.

4. FLÓRIO, W. (1998) "Da Representação à Simulação Infográfica dos Espaços Arquitetônicos" - Dissertação de Mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.

5. WALL, D. (1984) "Forword", em HOHAUSER, S. "Architectural and Interior Models", Van Nostrand Reinhold Company, New York.

6. GORDON, J. E. (1969) "The New Science of Strong Materials", Penguin Books, London.

Obs.: Embora lhes sejamos imensamente gratos, nenhum dos autores supra (ou das referências contidas no texto) tem a mais remota responsabilidade sobre quais e como suas idéias foram utilizadas neste texto, responsabilidade esta que cabe integralmente à S. Q. Maquetes. Por qualquer abuso ou erro, desde já nos desculpamos.


Créditos - Imagens

1- LOMMEL, A. (1966), Placa de Bronze, "A Arte Pré-Histórica e Primitiva", Livraria José Olympio Editora, São Paulo, pp.46

2- GRANT, J. (2000), Pião de xadrez viking, "Introdução à Mitologia Viking", Estanpa Editora, Lisboa, pp.113

3- ROBERTSON, D. S. (1997), Templo de Hera, "Arquitetura Grega e Romana", Martins Fontes, São Paulo, Lâmina 1C pp.274

4- GUIDONI, E. (c1977), Casa do Arroz das Ilhas Fiji, "Arquitectura Primitiva", Aguilar Ediciones, Madrid, pp.202

5- NOVAES, S.C. (Org.), (1983), Habitação Indígena, "Habitações Indígenas", EDUSP/Livraria Nobel, São Paulo, pp. 120

6- ARGAN, G.C. e CONTARDI, B (1993), Capela de São Pedro, "Michelangelo Architect", Harry N. Abrans Inc. Publishers, New York, pp.287

7- DA SILVA, M.S.K., (2004), "Living Pod Project - David Greene, Archigram", "Redescobrindo a Arquitetura do Archigram", esp 231, em Arquitextos, seção "Arquitetos", Portal Vitruvius.

8- JOHNSON, P. e WIGLEY, M. (1988), Bloco de apartamentos em Viena, "Deconstructivist Architecture", Little Brown and Co., New York, pp.89

9- SIMÕES, J.R.L. (1998), Edifício da Central de Sinalização das Vias Férreas - Basiléia | Proposta de edifício com revestimento em cobre, "Tecnologia do Cobre na Arquitetura", Editora Pini, São Paulo, pp.121

10- EL CROQUIS EDITORIAL Nº99 (2000), Residência em Tokio, "Kazuyo Sejima y Ryue Nishizawa", Madrid, pp.61

11- ARTIGAS, R. (?), Museu de Arte Contemporânea da USP, "Paulo Mendes da Rocha", Cosac & Naify, São Paulo, pp.134

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